Há
algum tempo venho tentando me manter informada a respeito da Usina de Belo
Monte. Contudo, devido a profusão de notícias nos meios de comunicação, definir
uma posição a respeito dos fatos foi difícil. Para sanar essa questão,
encontrei uma entrevista (1) concedida à jornalista Eliane Brum, para a Época,
por Célio Bermann, professor do
Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), com
doutorado em Planejamento de Sistemas Energéticos pela Unicamp. Um dos mais
respeitados especialista na área energética brasileira e ex-assessor de Dilma
no ministério de Minas e Energia fala de maneira objetiva e clara sobre a
questão nessa entrevista, cujos pontos principais ressalto neste texto.
Para começar, a usina será construída no Rio
Xingu, no estado do Pará e alagará uma área de 640km (2) entre terras indígenas
e Unidades de Conservação. Além de todos os erros que já conhecemos previamente
sobre essa obra e os que saberemos com o presente texto, colocar debaixo d’água
parte de nossa floresta é impraticável tendo em vista seu valor para a
manutenção do clima do planeta e seu valor intrínseco: sua absurda gama de
espécies da fauna e flora e a cultura indígena que merecem ser poupadas e
valorizadas.
Em 2006, a obra foi anunciada em R$ 4,5
bilhões. Hoje, estima-se que não sairá por menos de R$ 32 bilhões, sem contar
os superfaturamentos! Oitenta por cento desse dinheiro é do BNDES, dinheiro
público! Uma obra de tamanho custo para gerar 11.200 megawatts de potência
instalada que só vão funcionar quatro meses por ano por causa do funcionamento
hidrológico do Xingu, pois este rio tem épocas de cheia e de seca bem
definidas. Devido a isso, o entrevistado acredita piamente que Belo Monte não
será a única hidrelétrica na região. Segundo ele, serão construídas mais usinas
rio acima que manterão os níveis d’água dentro do necessário para que esta gere
os 11.200MW durante todo o ano. Ou seja: mais impactos sobre a Amazônia!
O citado autor, juntamente com um grupo de
pesquisadores, elaboraram um texto onde analisam o Estudo de Impacto Ambiental
do Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte e concluíram que este é um
empreendimento totalmente indesejável dos pontos de vista econômico, financeiro,
técnico, social e ambiental.
Porém, as obras estão a todo vapor. Porque? Porque boa parte da
energia elétrica consumida em nosso pais é por indústrias eletrointensivas: alumínio, aço,
petroquímica, papel e celulose e outras. E boa parte de sua produção é para
exportação. Eu, assim como Bermann, não desejamos que estas indústrias sejam
fechadas, mas dobrar ou até triplicar a produção de aço ou celulose nos
próximos anos (o que o governo planeja) implica em um custo ambiental grande
demais a pagarmos. Basta que mantenhamos a produção como está. A grande questão
é que nossa economia está se primarizando cada vez mais. Além destes setores
consumirem muita energia e gerarem poucos empregos, tudo o que exportamos volta
em importações com um valor agregado. Ou seja: o lucro fica para
outras nações, o prejuízo, principalmente ambiental e social, para a nossa.
Não acredito que o Brasil esteja passando
por um momento de preocupação em relação à geração de energia elétrica. Nossa
demanda irá aumentar sim. Isso acontece em qualquer lugar do mundo. Mas este
problema pode ser solucionado. A demanda energética se concentra no alto
consumo das indústrias e no crescimento da população, pois maior população
significa maior necessidade energética. Este último tópico pode ser trabalhado
a partir de uma política de controle populacional efetiva. O útimo CENSO já
aponta a tendência da população brasileira em parar de crescer por volta do ano
2030, porém, não precisamos esperar até essa data. Podemos, e devemos, tomar
atitudes em relação a isso o quanto antes. Podemos também nos esforçar e mudar
velhos valores e hábitos (nessa ordem) não sustentáveis como acreditar que não
há problema em esquecer uma lâmpada ligada ou aparelhos em stand by. Isso é trabalho de todo o país. Nosso problema é achar
que quem deve se preocupar e resolver essas questões são nossos governantes,
quando na verdade, por serem problemas que afetam nossas vidas diretamente,
deveríamos nós mesmos buscar alternativas e cobrar de nossos representantes
medidas eficazes. No fim quem ganha com obras como a usina de Belo Monte são as
construtoras e os políticos. O povo apenas financiou mais lucro para um grupo
muito pequeno de desosnestos.
Para terminar,
destaco a fala do pesquisador:
“É importante a percepção de que, cada vez que você liga um aparelho elétrico, a televisão, o computador, ou a luz da sua casa, você tenha como referência o fato de que a luz que está chegando ali é resultado de um processo penoso de expulsão de pessoas, do afastamento de uma população da sua base material de vida. E isso é absolutamente condenável, principalmente se forem indígenas e populações tradicionais. Mas também diz respeito à nossa própria vida. É necessário ter uma percepção crítica do nosso modo de vida, que não vai se modificar amanhã, mas ela precisa já estar na cabeça das pessoas, porque não é só energia, é uma série de recursos naturais que a gente simplesmente não considera que estão sendo exauridos e comprometidos.”
Segue os links:
(2)
Parabéns pelo texto, meninas! Finalmente consegui me informar de maneira não-tendenciosa sobre o assunto. É um absurdo que as obras continuem avançando mesmo depois dos protestos e esclarescimentos!
ResponderExcluirVou aproveitar e ver a entrevista na íntegra!
Bjs
Obrigada Carol ficamos felizes que você tenha gostado do texto e que tenha te esclarecido.
ExcluirConcordamos plenamente com você, e o pior que além de Belo Monte estão previstas mais 62 hidrelétricas, aproximadamente, muitas delas, já construídas, para a região pantanal-amazônia, o que poderá mudar toda a dinâmica de águas da região, influenciar no período de cheias do pantanal, entre outros impactos.
Veja a entrevista sim, é muito boa, e procure sempre estar informada, porém atenta a tudo que ler. Aqui no blog tentaremos sempre passar para vocês as informações e expressar a nossa opinião e ler também a opinião de vocês.
Beijos, até a próxima!