domingo, 21 de abril de 2013

Conhecendo a nossa cultura indígena de perto


Para comemorar o dia do Índio (19/04) resolvi entrevistar uma índia da etnia UMUTINA. Minha entrevistada se chama Tainara Toriká e é estudante de Biblioteconomia e minha colega de quarto no alojamento estudantil da UFSCar. Conversamos por mais ou menos 40 minutos na cozinha do nosso “aloja” e confirmei – mais uma vez - como sabemos pouco da nossa cultura tradicional e dos povos que formaram a população brasileira.

Tainara vive (nas férias) na Terra Indígena Umutina localizada no estado do Mato Grosso, a 280 km de Cuiabá, entre os rios Paraguai e Bugre. Em sua aldeia vivem 600 pessoas, numa área de 40000 ha já demarcada. A aldeia esta a 12km da cidade de Barra do Bugres. Outras aldeias próximas são a Aldeia Bakalana que significa Garça Branca, Aldeia Massepô e a Aldeia Cachoeirinha, sendo a Aldeia Umutina a aldeia central.

Tradicionalmente o povo Umutina se chamava BALATIPONÉ mas foram apelidados pelo povo Pareci de “Imuti” que significa não-índio, branco, por serem índios de pele mais clara do que normalmente se via. De “Imuti” o nome se tornou Umutina.

Os Umutina eram tradicionalmente um povo arredio, guerreiro. Foi apenas a partir da década de 1910, com a interferência do Marechal Rondon que se aproximaram do homem branco. Mais tarde, sob a influência do Governo, índios de outras oito etnias foram morar na terra Umutina e foram todos obrigados a esquecer sua cultura, proibidos de falar sua língua e passaram por um aculturamento.




Quanto às lideranças da comunidade há o cacique que trata de problemas internos da aldeia e o chefe de posto, funcionário da FUNAI – Fundação Nacional do Índio, que trabalha na captação de recursos junto à esta instituição, governos, etc. E é a mesma FUNAI que os ampara quanto à condição sanitária, envio de tratores, etc.

Na aldeia há um posto de saúde e a cada 15 dias eles recebem a visita de um médico. Há também uma escola que atende do Ensino Fundamental ao Médio cujos professores são indígenas. Quanto às casas, algumas são da época da chegada do Marechal Rondon, outras de pau-a-pique e alvenaria.

Em relação à língua, hoje apenas os mais velhos da aldeia ainda falam. Alguns mais jovens a aprenderam e trabalham de maneira a mantê-la viva, sendo trabalhada na escola assim como os demais aspectos da cultura. Quanto à religião a maioria é católica, havendo uma minoria evangélica.

Um aspecto que julguei negativo se refere ao fato de que se uma indígena se casar com um homem branco, ele não pode se mudar para a aldeia. É ela quem tem que sair de lá e ir com ele para a cidade. Por outro lado se um indígena se casar com uma mulher branca esta pode vir morar com ele nas terras Umutina. O argumento explicado por Taianara é o de que o homem de fora poderia ambicionar as terras da aldeia já a mulher estrangeira se manteria submissa ao marido. Situação que reafirma o aspecto patriarcal da (se não todas) maioria das etnias.

A aldeia planta milho, banana, arroz, mandioca e outros em uma roça comunitária. Há também roças particulares. Parte da produção é vendida na cidade, gerando renda para a aldeia. Há também o grupo de mulheres que fazem artesanato e colaboram na renda de suas famílias.

Nas datas comemorativas usa-se os trajes tradicionais do povo Umutina, como no Dia do Índio, para homenagear algum ancião que já se foi ou épocas de colheita, em agradecimento ao Deus Haipukú. Como comidas típicas há o biju, a base de mandioca, peixe assado, carne de anta e a Xixa que é uma bebida e pode ser feita de arroz, açaí, bacava (uma fruta), milho e mandioca.

Na maior parte da área da aldeia predomina a vegetação preservada. Na região, atualmente, não há problemas com fazendeiros, mas sim com caçadores e pescadores que poluem e arriscam o equilíbrio do ecossistema pescando na piracema.

Como podemos ver, existe muito mais sobre os povos indígenas além do pouco que passa na tv. Os Umutina são um povo receptivo e trabalham para manter viva sua cultura, contudo há um funcionário da FUNAI assegurando sua permanência naquela terra (ainda que UM funcionário seja um número MUITO pequeno pelo tamanho da área). Digo isso, pois infelizmente há muitas outras aldeias que não recebem tanta atenção do nosso governo e com isso problemas como o álcool e a marginalidade aproveitam essa lacuna fazendo mais vítimas.

Essas linhas nunca vão exprimir minha admiração e respeito a todas as culturas indígenas brasileiras (e de outros países)! Gostaria apenas que a informação chegasse ao maior número possível de pessoas. Gostaria que valorizássemos mais quem de fato foi a base da nossa cultura e os primeiros donos dessa terra que nos abriga. Gostaria que o respeito e a humildade fossem os norteadores do governo e população na relação entre índios e não-índios.



"Quando nós mostramos o nosso respeito por outros seres vivos, eles respondem com respeito por nós."
(Arapaho)

Até a próxima leitores!

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